Mundo Estranho

Que este mundo é um lugar estranho, ninguém dúvida. Mas suas estranhezas, longe de serem justificáveis até mesmo num roteiro de filme surrealista, estão cada vez mais gritantes e difíceis de aceitar.
Nesta terra brasilis a coisa complica um pouco mais: legisladores eleitos pelo povo propõem medidas para viabilizarem legalmente a falcatrua; um considerável avanço no combate à fome mostra-se ainda insuficiente para tirar o país de listas de subnutridos; crescimento econômico é passado desapercebidamente por aqueles que deveriam viabilizar com isso o crescimento social.
A política é um caso a parte de estranhezas. Tanto no Brasil, como no resto do mundo tornou-se difícil distinguir as ideologias, as opiniões, os cargos e funções. A farinha, que é do mesmo saco, não é mais tão branca. Mas não me pergunte a cor, nem perca muito tempo tentando descobrir. Ninguém entende mais nada e quando pensa que entendeu, tudo já mudou novamente.
Entre os séculos XVIII e XIX, a solidão, o tédio e a melancolia foram cantadas pelos poetas apaixonados e desconsolados, que viviam em conflito com seus sentimentos feridos por alguém ou por uma causa.
Hoje o desconcertante mundo está marcado pela angústia e pela aflição, causadas pela impossibilidade de atender à demanda dos padrões exigidos ao longo da nossa vida: ter um corpo perfeito, comer somente alimentos saudáveis, estar sempre com uma opinião formada na ponta da língua, satisfazer-se com o trabalho, ser exemplar na vida familiar e social, engajar-se politicamente...
Talvez o mundo nem tenha se tornado tão complicado assim e tudo não passe de um exagera de um angustiado. Ou, quem sabe, George Orwell estava realmente certo ao concluir que a Ignorância é Força.